Como assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis?

 

Riqueza pode ser conceituada como tudo aquilo que é criado para manutenção e evolução da vida. Aqui, entendemos evolução como um estado de equilíbrio dinâmico do universo onde a vida se realiza plenamente, equilíbrio este que os homens chamam de felicidade.

Somente a Natureza produz riquezas de primeiro nível: os minerais, os animais e os vegetais. Num complexo sistema produtivo, ainda pouco entendido por nós, ela cria esses três mundos, a partir dos quais serão produzidas as riquezas de segundo nível. Riquezas de segundo nível são as relações entre elementos dos diferentes mundos ou entre componentes do mesmo mundo. As emoções, os sentimentos e, no caso do Homem, suas relações, suas idéias e o seu conhecimento também estão entre as riquezas de segundo nível. Já no terceiro nível encontramos os produtos materiais produzidos pelos três mundos, incluindo os produtos culturais humanos.

O dinheiro surge como intermediador de riquezas de terceiro nível, mas não como uma riqueza em si, ele modera as trocas e, a partir daí, tenta organizar um complexo sistema de valoração de riquezas dos três mundos. Mais ainda, tenta valorar as relações entre os diferentes níveis de riquezas, propondo um fator absoluto de análise e definição de valores que representarão, simbolicamente, as riquezas no imaginário humano.

O valor real de cada riqueza deveria ser definido pela relevância que esse bem, relação, emoção, sentimento, ideia ou conhecimento tem na satisfação de uma necessidade da vida naquele momento. Claro que essa necessidade da vida é transformada em necessidade humana pela percepção que uma comunidade tem e interpreta num dado momento e numa dada situação. Portanto, a riqueza existe, mas seu valor tem um caráter histórico e social por ser representativo de uma percepção humana num certo momento e dependente do nível de consciência de uma comunidade específica. Assim, o valor da riqueza “água”, fundamental para a manutenção da vida, aparece como uma necessidade humana com diferentes graus de relevância, dependendo da situação específica (facilidade de acesso a essa riqueza, por exemplo), do nível de conhecimento do papel da água no ciclo da vida e do estágio de consciência dos cidadãos de uma determinada comunidade.

Dessa forma, a participação do que chamamos de “mercado” é fundamental no livre estabelecimento dos valores das riquezas. Se esse “mercado” funcionar livre de manipulações, permitirá a evolução histórica dos valores na medida em que fatores como facilidade de acesso, conhecimento científico e consciência também estarão em evolução.

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(Foto/ reprodução: IBGE)

O dinheiro, como intermediador de riquezas, deveria ter um caráter apenas transacional, jamais definidor de valor ou, pior ainda, uma riqueza em si. Quando emprestamos dinheiro a alguém, possibilitamos que esse alguém antecipe a posse de alguns insumos necessários para produzir riqueza num montante igual ou maior que o dinheiro emprestado, fechando o ciclo de troca. Portanto, não foi o dinheiro que foi trocado pelos insumos, mas a riqueza produzida a posteriori. Se essa riqueza não for produzida ou não atingir o valor equivalente estipulado para os insumos, este “alguém” fica em dívida, isto é, precisa produzir mais riqueza.

Em entrevista concedida por e-mail para a IHU On-Line em 10/06/2009, a economista inglesa, residente nos Estados Unidos, Hazel Henderson, afirma que sente a necessidade de uma nova economia e uma nova cultura do consumo que sejam mais condizentes com a sustentabilidade do planeta. No Brasil, o endereço é www.mercadoetico.com.br. Para ela, a principal limitação do pensamento econômico convencional, focado nos mercados e no PIB, é o “seu foco no dinheiro, que não tem valor intrínseco”. Hazel explica que: “O dinheiro é informação, uma invenção útil para rastrear as transações humanas com outros seres humanos e com a natureza, que são os ativos realmente valiosos. A ciência econômica está focada no materialismo e é patriarcal, visto que não valoriza o trabalho não-remunerado das mulheres e o trabalho voluntário nas comunidades”.

De 2009 até hoje pouca coisa mudou, apenas as ameaças climáticas e as crises econômicas agravaram-se. Partindo dessa ideia, a doença do consumo compulsivo (Oneomania) foi acentuada pela propaganda, pela depressão causada pela pandemia da COVID-19 e pela constante necessidade de buscar felicidade na posse de bens materiais. Essa necessidade de posse gera um consumo infinito de produtos criados a partir de insumos retirados de um planeta finito.

Por esse motivo, a ONU vem lutando para estabelecer uma racionalidade na produção e consumo de riquezas, principalmente as materiais. Esse consumo está exaurindo o planeta Terra em tal velocidade que seus reinos principais não conseguem se recuperar.

Portanto, precisamos nos conscientizar das metas acordadas no Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 12 (ODS 12) e implantá-las com urgência, redesenhando um novo modelo econômico mais justo para as pessoas e, principalmente, para o planeta.

Metas ODS 12: Consumo e Produção Responsáveis: